.

26.3.07

Doublé de corpo ...





“Não me beije que eu tenho veneno.
É o meu preço, não faço por menos, mas depois
Te amarei.”
Veneno/venelo Polacci



Acordara, não havia muito tempo. Olhou para o lado e o viu ainda sonhar.Levantou deixando os lençóis amassados para trás, ainda tinha a impressão de que aquilo a fazia bem, doce mentira.Uns vivem com o que lhe dói menos outros assumem serem pequenos diante da brincadeira de Deus. Ela assumiu: era diferente das demais. Queria conforto,bons ambientes, queria coisas levianas, a diversão gratuita enquanto seu corpo a permitia.
Olha-se no espelho, a maquiagem ainda estava ali, escorrida, deformada.Liga o chuveiro espera a água esquentar e entra num pulo felino. A pele alva, cabelos sedosos negros, bonita. Enquanto a água limpava seu corpo da noite anterior sua alma permanecia imaculada, mergulhada num torpor passageiro, logo a realidade a chamaria de volta, ele acordaria e tiraria da carteira de couro legítimo o pagamento de uma noite de realizações libidinosas.Eles sempre queriam tudo que nunca tiveram coragem de pedir as mais puras, “as meninas de boa família”. Ela um dia já foi uma e ainda acreditava ser.O dinheiro era apenas um complemento, uma desculpa para sentir o prazer que sente toda vez que é desejada por um homem estranho.As caras e bocas que uma mulher, ousada, faz são diferentes das meninas de boa família, essas fingem orgasmo, fingem não querer, sedem com ar de presente, no fundo, elas querem mais, querem prazer como qualquer mulher, que tem ...Enfim. Sinceridade. Este é o ponto em que ela se pega, ela diz o que quer,diz como gosta e assume gostar, e muito. A chamam de “n” coisas, mas o que ela mais gosta é quando a chamam pelo nome, aquele ar de intimidade, “eu te conheço pessoa”. Claro, ela muda todas as noites e confessa para os mais íntimos que ás vezes se confunde com o nome da noite, do dia, da tarde. O nome que ela inventa para o fetiche ser ainda melhor, completo! Já foi de Ana à Zorayde, gosta de seguir o alfabeto.
Tem dia que sua libido está controlada, apenas quer tomar um bom vinho e ver a noite chegar e se fazer deliciosamente presente. Adora a noite! E esta a ama ... “Sou uma filha da noite”. Quando a noite é de lua cheia ela sai a caça, na maioria nem cobra, não é garota de programa, e sim uma libidinosa devassa. O que ela faz, então? Ela é arquiteta. Trabalha com projetos de urbanismo da cidade, e por que as saídas à noite com homens estranhos? Pura diversão, a vida é muito entediante. Os amigos a condenam, nem todos, só aqueles que morrem de vontade de serem:desejados,amordaçados,consumidos, consumir, que não gritam alto de prazer; Os contidos, “tolidos”, educados, moralistas, e enfadonhos seres humanos...
O banho acaba, ela sai, se seca, veste suas roupas. O homem ainda dorme e se mexe com o barulho despreocupado que ela faz.Abre os olhos e ainda a vê fechando o zíper da sua blusa branca de seda. Se levanta e segue em direção a carteira, aquela de couro legítimo que deve ser de jacaré, e pergunta quanto à noite valeu. Ela sorri afetada e acaba de calçar às sandálias de salto fino, elegante. O homem permanece parado a espera do valor, ficava imaginando como uma prostituta podia ser tão elegante. “Termas! Com certeza!” Pergunta novamente, com um tom de emergência, quer ir embora, tem família, tem trabalho, não ganha a vida na cama. Ela levanta os olhos e o observa antes de falar calmamente:
_ É de graça! Por aqui meu bem, quem "comeu" fui eu _ Ri debochada e se dirige a porta e antes de sair ainda olha de relance o homem que se jogou na cama e ri alto de si mesmo. Os homens definitivamente nasceram para serem degustados.
O nome dela? Ninguém sabe. Nem ela.

Imagem: Site Olhares.com

1 Comentários:

  • maravilhoso !
    consegui sentir o cheiro dela, e ver o sorriso, e até desejá-la !
    tem alguns "personagens" que saltam do texto, do vídeo, do filme, do que sejam, e respiram com pulmões próprios, q vêm à vida.
    Sua mulher sem nome respira

    Por Blogger Mazé Mixo, às 1:36 PM  

Postar um comentário

<< Home